quinta-feira, 31 de maio de 2012

Sociedade de formas


Pensamos que, às vezes, não restou um só dragão. Não há mais qualquer bravo cavaleiro, nem uma única princesa a passear por florestas encantadas. Pensamos, às vezes, que a nossa era está além das fronteiras, além das aventuras. Julgamos que o destino já passou do horizonte e se foi para sempre. É um prazer estar enganado. Princesas e cavaleiros, encantamentos e dragões, mistério e aventura não existem apenas aqui e agora, mas também continuam a ser tudo o que já existiu neste mundo. No nosso século, só mudaram de roupagem. As aparências tornaram-se tão insidiosas que as princesas e cavaleiros podem esconder-se uns dos outros, podem esconder-se até de si mesmos. Contudo, os mestres da realidade ainda nos encontram, em sonhos, para nos dizerem que nunca perdemos o escudo de que precisamos contra os dragões; que uma descarga de fogo azul nos envolve agora, a fim que possamos mudar o mundo como desejarmos.

“A intuição sussurra a verdade.
Não somos poeira, somos magia.
Fecha os olhos e segue a tua intuição.”

Numa recente conversa com um amigo, falámos de algo interessante e bem verdadeiro. Se dividirmos um ser humano em partes, ou seja, retirarmos a cabeça, o braço, a perna e um orgão, tenho a certeza que cada um de nós, como seres racionais que somos, iria entender que o corpo estaria morto. Ora, se tivessemos um corpo separado em partes (um corpo sem vida) não conseguiriamos entender qual a verdadeira essência do mesmo, entender o seu comportamento, a sua maneira de funcionar, a sua “magia”.
Podemos aplicar este pensamento ao Mundo em si. Ao vivermos uma vida inteira neste fantástico mundo, num país único definido por fronteiras, numa única sociedade com certos valores e tradições, nunca iremos entender a sua verdadeira essência.
Se vivermos uma vida inteira sem amar a mudança, sem estarmos dispostos a conhecer todos os pontos positivos das maravilhosas culturas deste mundo e também de partilharmos a história que cada um tem trazido consigo ao longo deste tempo, não passaremos de meros visitantes neste planeta.
Acreditem que viajar é, sem dúvida, os melhores estudos que podemos ter. A evolução pertence aos aventureiros que não têm medo de naufragar.
Comecemos do princípio.
Ao nascermos numa sociedade num determinado país, no seio de uma determinada cultura e de uma determinada família, tudo o que é ensinado e imposto torna-se natural, simples.
Se nascermos num país desenvolvido, numa sociedade de consumo, onde é esperado que adoptemos um certo padrão de vida social, como ir à escola, licenciarmo-nos numa boa universidade, entre muitos outros aspectos, esse vai-nos parecer o padrão de vida correcto. Tudo o que estiver contra o que está pré-estabelecido vai parecer estranho e errado, pois ao longo da vida foi-nos incutido um determinado padrão de conduta social.
Qualquer pessoa a partir de certa idade se questiona sobre a sua vida, sobre a maneira como a vive, se o que está a fazer é o que a vai levar a ser feliz, a ter sucesso, de que forma se enquadra nesta “sociedade de formas”, até que ponto deverá seguir a sua intuição, enfim poderiamos mencionar uma série de aspectos.
Questionar é bom! Poucos são os que se questionam e começam esta aventura de conhecer o mundo, conhecerem-se a si prórios sem estarem sujeitos a determinada forma social. Poucos são os que têm a coragem de seguir a sua essência humana. Poucos são os que tem a coragem de seguir o seu caminho, por vezes optar por um caminho difícil, mas eventualmente um caminho melhor. Poucos são os que dão oportunidade a si próprios de serem eles mesmos, de serem felizes e de se autorealizarem, por medo do que a sua família, sociedade ou país possa achar.
Certo dia um sábio  disse: “Há um momento na vida de qualquer homem a que se chega a duas opções: Submetermo-nos ou Lutarmos. Lutarmos como homens, determinados a atingir o que pretendemos e quem realmente queremos ser, sem perder tempo com conversas vãs e inação.”
Vivemos numa era de mundanca, de evolução e de globalização, onde toda a gente tem a facilidade de viajar e de experienciar este fantástico mundo. Vivemos numa era onde muitos paises incluindo o nosso (Portugal) passam por tempos dificieis, provenientes de um sistema monetário imperfeito e injusto. Vivemos igualmente numa era de contrastes sociais e culturais gigantescos. Por outro lado, atravessamos uma época de oportunidades para evoluirmos como seres humanos, como sociedades, como países, como um mundo. Não será a mudanca essencial?.
Se os cientistas dizem que o universo é tudo e tudo é o universo, não seremos nós então o Universo? Quem melhor do que nós, que somos o próprio universo para o explicar? Quem melhor do que nós para tentar explicar o que se passa no nosso mundo? Quem melhor que nós para nos explicarmos a nós mesmos e decidir qual o caminho a explorar?
Temos a informação necessária para ser seres humanos evoluídos e vivermos a vida de uma forma responsável.
Melhor, temos as ferramentas necessárias para nos descobrirmos a nós próprios e não sermos persuadidos por falsas ideologias. Se conseguirmos que as ideologias fiquem de parte, teremos uma capacidade ilimitada para absorver e criar, aceitar tudo e todos sem nenhum julgamento.

Numa civilização baseada em ego não e fácil viver em harmonia com o mundo nem sentir a verdadeira relação com a natureza e com o mundo que nos rodeia.
Vivemos numa “sociedade de formas”, uma sociedade onde tudo surge formatado, até mesmo o amor.
Quem não imagina o seu casamento com determinado “formato”? Com uma pessoa de certa “forma”? Num lugar de perfeitíssima “forma”? Tudo está formatado.
Se deixarmos as formas e ideologias para trás, sem dúvida vamos conseguir viver num universo não formatado, pois as formas são como as nuvens, dissolvem-se e depois solvem-se outra vez.
Quando deixarmos de catalogar tudo, quando deixarmos de estar presos à história da nossa vida, ao passado e ao futuro, nesse momento estaremos vivos para o Presente. Tornar-nos-emos pessoas simples sem necessidade de nos sentirmos ou nos identificarmos como pessoas especiais, seremos simplesmente seres vulgares, livres de qualquer tipo de pressão social ou pessoal, a liberdade para sermos nós próprios.

As vozes que nunca parecem parar de sussurrar nas nossas cabeças não passam de vozes de uma sociedade obcecada pela Forma, essa mesma sociedade que pouco sabe sobre as principais dimensões da existência humana, como o espiritual, o mágico, o universo, o mundo não formatado...

Qual é o interesse de conquistar o mundo se nos perdermos a nós próprios?

O momento presente é o portal para uma dimensão “sem formas”, onde o passado e o futuro simplesmente não acontecem. Há pessoas que carregam o fardo do passado e do futuro as costas, na esperança de que um dia tudo faça sentido, ou justificando as suas frustrações como resultado de experiências vividas, mas na verdade a única realidade que existe e sempre existirá é o presente e só o presente, este momento e mais nenhum...
No presente não existe espaço nem tempo, o sol tão pouco se põe, é tudo uma questão de perspectiva do observador, não é quem somos mas o que somos . Por mais longa que a nossa jornada pareça, nunca haverá mais do que isto. Um passo, uma respiração, este preciso segundo, este preciso momento.
Coragem é preciso, a mudança é essencial e a evolução será genial.
Este artigo não tem como objectivo dizer a cada um de vocês o que fazer, mas apela a que cada um seja líder de si próprio, que crie por si próprio, pense por si próprio e que siga a sua jornada sem medo, que siga o seu caminho decidido, que alcance o seu maior objectivo, pois se assim for, sem dúvida, será ser feliz e fará os outros felizes.
Viagem, procurem, experimentem, pensem muito, não pensem às vezes, façam, fiquem, andem, vão, não vão, mas leiam, pesquisem, marquem, embarquem, partilhem, mantenham-se informados, oiçam, não oiçam, perguntem, respondam, ajudem os outros, ajudem-se a si próprios, caminhem... caminhem... e caminhem, sózinhos, acompanhados, com namorado, sem namorada, com amigos, sem amigos, caminhem... caminhem... e caminhem, em lugares de ninguém, em lugares espantosos com alguém, na vossa estrada, numa estrada iluminada e infinita, numa estrada sempre observada pelo sol, vejam, reajam, nao reajam, escutem, apreciem, continuem a caminhar, mais e mais, riam, sejam felizes, facam alguém feliz, chorem, levantem-se, olhem para a frente continuem a caminhar, o momento não está longe, o vosso momento, a estrada é longa, o caminho muitas vezes difícil, mas o sol está sempre lá em cima, ilumina, vão, sejam líderes, criem.. criem... e criem.
Não párem, a jornada, a missão, a aventura, a magia está aqui, agora, no vosso caminho, o caminho para o sucesso e felicidade pode ser difícil se escolhermos o caminho mais fácil, ninguém os pára agora, rápido, devagar, não interessa, interessa, o momento está cada vez mais perto, tentem mais, façam, vão, determinem, naufraguem , experienciem, estudem, leiam, pratiquem, olhem e vejam, oiçam e escutem, toquem e sintam, provem e saboreiem, cheirem e respirem o ar do vosso caminho para que, quando o vosso momento realmente chegar, não terem de escolher entre “isto” ou “aquilo”.
Pura e simplesmente saberão.
Parece sempre impossível antes de o termos feito.


Lourenço Bruschy


quarta-feira, 2 de maio de 2012

Os 38 anos da Revolução de Abril


Em primeiro lugar queria pedir desculpa aos nossos leitores pelo atraso na colocação deste artigo.
Dado que este texto é referente ao mês de abril, pareceu me incontornável não falar da revolução que surgiu em Portugal no dia 25 de abril de 74, esta revolução resultou de um golpe de Estado militar orquestrado pelo MFA (Movimento das Forças Armadas), que depôs o regime do Estado Novo, vigente desde a constituição de 1933.
Como sabemos Portugal estava envolvido numa guerra colonial bastante contestada e a acrescentar a isto o regime já não gozava da solidez dos tempos do Prof. Salazar, bem como a popularidade de Marcello Caetano (Presidente do conselho de Ministros) já não era a de outros tempos, estes foram alguns dos factores que potenciaram a revolta.
Importa salientar que esta revolução foi feita sem “sangue”, apenas foram destronadas as instituições do regime. Após o golpe foi criada a Junta de Salvação Nacional, responsável pela nomeação do Presidente da República e pelo programa do governo provisório. Assim, a 15 de Maio de 74 o General António Spínola foi nomeado Presidente da República. O cargo de Primeiro-Ministro foi atribuído a Palama Carlos.
Depois seguiram-se períodos muito difíceis, nomeadamente com o conturbado “Verão Quente de 75”, marcado por ocupações, sucessivos governos provisórios e por uma forte agitação social.
Estabilizada a conjuntura politica e social, prosseguiu-se com os trabalhos para a elaboração da nova Constituição da Republica Portuguesa, que viria em 1976 implementar em Portugal um regime democrático que vigora até aos dias de hoje.
Em jeito de conclusão e depois de ter feito uma contextualização histórica, importa na minha opinião tirar algumas conclusões deste acontecimento histórico que já leva trinta e oito anos de existência. Assim não são muitos os dados positivos que podemos tirar da revolução de Abril, pois se por um lado hoje os cidadãos não vêm as suas liberdades restringidas, por outro vêm um país que há trinta e oito anos é abafado por uma corrupção que nos deixou à beira da banca rota, em que a verdade politica não existe, em que a palavra “patriotismo” parece já não constar do nosso dicionário, já não falando da forma infantil e despreocupada como foram entregues as colonias.
Por fim penso que teria sido mais saudável para o país ter sofrido uma evolução em vez de uma revolução, ou seja, deveria ter havido uma transição para a democracia de uma forma planeada e bem estruturada, que passaria no meu entender pela aposta na formação e educação progressiva da nossa população.

António Pedroso

sábado, 31 de março de 2012

A guerra do Médio-Oriente



Certamente que já todos nos questionamos acerca do porquê de todos os confrontos, violências e também injustiças que se passam nesta região do mundo, o Médio Oriente. Provavelmente as pessoas que procuram saber o porquê deste conflito, obtiveram respostas; já as que não o fizeram, têm neste artigo essa oportunidade.

Depois de uma profunda pesquisa sobre este tema, cheguei à conclusão que esta guerra do Médio Oriente é provavelmente o conflito mais fácil de se descrever no mundo, no entanto é com certeza o mais difícil de se resolver. Para compreendermos melhor como tudo começou, teremos então de recuar algum espaço no tempo.

A partir do ano 70 d.C., os judeus foram forçados pelos romanos a deixar a região palestiniana e começaram então a dispersar-se pelo mundo. Espalharam-se pelos Estados Unidos da América, África e principalmente pela Europa de Leste, onde rapidamente surgiram problemas. A Alemanha foi mesmo o principal destino, mas depois do holocausto provocado por Hitler, líder do movimento nazi, muitos judeus optaram por voltar a emigrar. Outro dos destinos foi a Rússia, onde os judeus preservaram a sua identidade, cultura, língua, tradição e religião. Eram então um povo completamente estranho para os russos, o que fazia com que a relação entre eles não fosse a melhor. Para além disso, tudo piorou quando, em 1881, o czar Alexandre da Rússia foi assassinado e um dos participantes do crime era judeu. De seguida, muitos judeus foram alvo de ataques violentos e, como consequência, a maior parte deles que vivia na Rússia voltou a emigrar. Só nesta década de 1880 desembarcaram nos Estados Unidos cerca de 135 mil judeus provenientes da Rússia.

Depois de os judeus terem sido alvo de um dos maiores criminosos da história da humanidade, Adolf Hitler, e estando espalhados pelo mundo, aparentemente “sem destino”, foi então criado pelos judeus no final do séc. XIX, o movimento Sionista, cujo objectivo era a criação de um estado judaico independente. Pensou-se que poderia ser estabelecido no Chipre, na Argentina e até no Congo, mas mais tarde decidiu-se que, por razões religiosas, o que faria mais sentido era o regresso à terra natal, Jerusalém na região da palestina. Começou então uma nova emigração para este território.
Nesta altura esta área palestiniana estava ocupada pelos britânicos que ocuparam o território depois de terem vencido a 1ª Guerra Mundial. Esta região tinha sido controlada durante 500 anos pelo Império Turco-Otomano, que acabou por a entregar quando perderam a guerra.

Basicamente, Israel gostaria de existir e reconhece o direito dos palestinianos de terem um estado. Já os palestinianos, no entanto, e muitos outros árabes e muçulmanos (provenientes da Jordânia, Arábia Saudita, Egito, Síria e Líbano) não reconhecem o direito de existir um estado judeu de Israel para o qual não vêem qualquer fundamento. No mesmo sentido, quando começou a emigração dos judeus para o território palestiniano, surgiram imediatamente conflitos entre judeus e palestinianos.

Mais tarde, em 1947, os britânicos acabaram por sair do território e a Organização das Nações Unidas (ONU) estabeleceu uma divisão em que uma metade da região seria judaica e a outra metade árabe. Os judeus aceitaram, os árabes não, e no momento em que foi anunciada esta partilha, o Egito, a Jordânia, a Arábia Saudita, a Síria e o Líbano atacaram o estado judeu com o objectivo de o destruir. Para surpresa de todos, o pequeno estado de Israel sobreviveu, mas novos ataques foram feitos e, em 1967, o ditador do Egito, Gamal Abdal Nasser, disse que iria acabar com o estado de Israel. A ele juntaram-se a Jordânia e a Síria, mas desta vez Israel atacou primeiro e então acabou por vencer num confronto que foi chamado de guerra dos seis dias. E foi só desta maneira, para sua própria defesa, que Israel veio a ocupar o que hoje se chama de Cisjordânia (em inglês chamam-lhe de West Bank of Jordan, pois a Cisjordânia está situada a oeste da Jordânia), onde muitos palestinianos vivem. A Cisjordânia estava a ser ocupada pela Jordânia apenas com o intuito de acabar com o recém-criado estado de Israel. O estado judaico também ocupou a Península do Sinai, no Egito, as Colinas de Golã, na Síria e a Faixa de Gaza.
         
Divisão da ONU em 1947


Ocupação de Israel após a guerra dos seis dias

Os conflitos vieram a acalmar, mas ainda no mesmo ano de 1967, os representantes dos principais países árabes reuniram-se em Carton no Sudão e anunciaram os famosos “três nãos”: o “não” ao reconhecimento, o “não” à paz e o “não” à negociação com Israel. 

Depois deste acordo o estado judeu decidiu que devolveria toda a Península do Sinai, uma área territorial maior do que Israel, com petróleo, ao Egito. Isto porque o Egito disse faria paz se Israel o fizesse. Mas não existe realmente esse desejo por parte dos seus inimigos em que o lema de Hamas (organização palestiniana que não reconhece a existência do estado de Israel e que controla a Faixa de Gaza) é “nós amamos a morte, como os judeus amam a vida”. Portanto é muito difícil fazer com que haja paz quando as pessoas acreditam no que Hamas acredita.

Falaremos agora de uma coisa de que pouco se ouve falar: a existência de um estado palestiniano. Quando os palestinianos estiveram sob o regime jordânico  nunca se ouviu falar de um tal de estado próprio. Mas quando os palestinianos estiveram sob o regime israelita, aí sim, falou-se de um estado autónomo apenas porque essa seria uma maneira de destruir o estado judeu de Israel. Nunca, mas nunca na história da humanidade houve um estado ou uma nação naquela área que não fosse judeu. 
No fundo, sempre existiu a região a que hoje pertence Portugal, mas apenas fomos considerados um país e uma nação quando declarámos independência em 1143. No entanto, nem todos os países precisam desta declaração para serem realmente reconhecidos como independentes, pois um país só declara independência quando está dependente do regime de outra nação. Ora a palestina nunca foi dominada pelo seu próprio regime, logo para ser uma nação livre e independente, tem obrigatoriamente que declarar a existência de um estado autónomo com barreiras previamente definidas.

Ao longo dos séculos as crenças religiosas dos judeus têm sido, compreensivelmente afectadas. Eles perguntam-se como é que é possível um povo estar exposto a tal sofrimento durante tanto tempo. De facto todos nós nos perguntamos o que é que este povo tem de diferente dos outros para merecerem tal pena como esta. No fundo, porque é que um país como Israel do tamanho do nosso alentejo não pode existir? Estas são todas perguntas que ultrapassam a capacidade do ser humano para as responder, mas também será que existe realmente alguma explicação ou resposta? Pessoalmente, eu acredito que sim, embora infelizmente, nunca a irei descobrir, pois ultrapassa-me.



Frederico Aragão Morais



quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012

Afinal o que é isto da democracia?



Antes de partir para qualquer exposição do tema importa dizer que a democracia tem origem na palavra grega “demos”, que significa povo, e é precisamente por ai que irei começar.


Como sabemos este sistema de governo teve origem na Antiguidade clássica, mais concretamente em Atenas, em que todos cidadãos discutiam e procuravam encontrar soluções para os problemas em assembleias populares. Mas é logo aqui que encontramos a primeira lacuna deste sistema que ainda estava na sua fase embrionária, pois apenas uma pequena percentagem da população poderia participar activamente na vida política da cidade, portanto ser um cidadão ateniense era uma condição que poucos usufruíam.


Saltando um pouco na historia e obviamente não esquecendo o papel que Roma desempenhou no desenvolvimento e consolidação desta ideologia politica, partimos agora para a época da modernidade histórica mais concretamente a partir dos séculos XII e XIII, com os abusos a que se assistiam por parte dos governantes surge uma corrente liberal, com pensamentos como o contrato social de Rosseu que visava estabelecer um pacto entre governantes e governados.


Posteriormente no século XX e depois de períodos conturbados como a revolução Bolchevique e a implementação de um regime comunista na Rússia, bem como a fixação de regimes fascistas em alguns países e claro as duas guerras munidas, pode dizer-se que a Europa é hoje um continente democrático e por sua vez Portugal também.


Após este retrato de contextualização histórica da democracia, importa agora ir ao fundo da questão. A democracia é algo que assegura e respeita os direitos fundamentais, assegura a separação de poderes e a participação da população na vida política, e é aqui que podemos fazer a destinação na forma de participação do povo, que pode ser exercida de forma directa, ou seja intervêm em todos ou de forma representativa através de eleições escolhem-se os representantes que posteriormente vão tomar as decisões, seguindo na teoria a vontade do povo.  


E é aqui que associamos liberdade a democracia. Esta associação está bem conseguida, no entanto o conceito de liberdade é ainda deturpado por algumas pessoas, uma vez que estas acreditam que a liberdade lhes confere o direito de dizer tudo aquilo que lhes apetece ou agir sem pensar nas consequências, só porque têm do seu lado esta tal palavrinha milagrosa denominada de liberdade para justificar os seus actos.


Assim como podemos constatar, esta vertente ideológica torna-se um autêntico “ quebra-cabeças”na altura em que se pretende aplicar na sua expressão mais pura, pois está repleta de imperfeições, até mesmo nas suas maiores bandeiras como a participação política do povo, que continua a ser imperfeita. Olhando para o exemplo do nosso pais, quando vamos às urnas não sabemos quem estamos a eleger para nos representar, apenas votamos num partido que por sua vez tem toda a liberdade de escolher quem vão ser os membros da sua lista, facto que denota alguma falta de transparência que em pouco se enquadra na translucidez a que uma democracia se propõe.


Em suma torna-se evidente afirmar que a democracia é posta à prova todos os dias e todos os dias duvidamos da sua eficiência, mas é como dizia o saudoso político britânico Winston Churchill “A democracia é a pior forma de governo, excepto todas as outras que têm sido tentadas”.


António Pedroso


terça-feira, 17 de janeiro de 2012

Origem da Crise Mundial


Nos dias que correm ouvimos muito falar daquela que dizem ser, a maior crise económica e financeira que alguma vez o mundo já atravessou. Certo dia, dei por mim a pensar no porquê de tudo isto. Onde é que começou e porquê;  quais as suas repercussões; e por fim por quanto tempo mais irá durar. Foi assim que começei esta pesquisa, tendo em vista uma melhor interpretação de toda a crise que afecta milhões de pessoas do mundo inteiro.

Foram vários os motivos que provocaram a crise económica e financeira que hoje atravessamos, alguns dos quais já perduram há algumas décadas. É o caso da crise do petróleo que teve início nos anos 70. Os graves conflitos entre árabes e israelitas, fizeram com que o petróleo se tornasse bastante influente na economia mundial. Os árabes sofreram derrotas e humilhações perante os israelitas que foram apoiados pelos Estados Unidos e pela Europa. Mais tarde, para pressionarem os países que ajudaram Israel, os árabes uniram-se e reduziram a produção do petróleo, originando um aumento brutal do preço do barril e, consequentemente, a crise do petróleo que abalou toda a economia mundial.

Outro dos principais motivos foi a crise do rating. As agências de rating são organizações que fazem estudos acerca da capacidade que as empresas ou países têm para contrair possíveis dívidas. Cada vez que uma agência faz uma análise destas, a economia sofre alterações de crescimento. Ou seja, se a análise for positiva, provavelmente, haverá um estimulo do desenvolvimento económico. Caso seja negativa, faz com que a percepção do risco de incumprimento ou dívida aumente, logo as taxas de juro podem sofrer alterações.

Contudo, facilmente cheguei à conclusão que grande parte da origem desta crise teve início naquele país que é uma das maiores potências mundiais, os Estados Unidos da América. Nos anos 90, o estado da economia americana tinha vindo a piorar, pois o país exportava menos do que importava. A solução passaria por estimular a exportação, desvalorizando a moeda para atrair novos investidores e também através de outras medidas internas, tais como a redução de impostos colectivos, exclusivamente a empresas exportadoras. No entanto, isso não foi feito, e tudo se agravou depois do 11 de Setembro de 2001 e consequente entrada na guerra com o  Iraque e Afeganistão. Em desespero, os EUA acabaram por pedir ajuda externa à Inglaterra e à China. Como se não bastasse, para aumentar a sua receita, os bancos começaram por conceder créditos arriscados, principalmente imobiliários, com juros extremamente baixos tanto a singulares como colectivos que, por sua vez, não tinham possibilidade financeira para fazer face a esse empréstimo. A este acto de “emprestar a quem não pode pagar” dá-se o nome de crise do subprime.

Com juros reduzidos, a procura ao crédito aumentou, o que fez com que o preço das casas disparassem. No entanto, para combater este aumento de preços a que se chama de inflação, aumentaram-se os juros. A procura diminuiu e consequentemente o preço também (deflação). Posto isto, começou o incumprimento por parte da população. Ou seja, as pessoas deixaram de ter meios monetários para sustentar juros tão elevados. Os bancos começaram então a perder muito dinheiro pois concederam créditos que não foram reembolsados, e acabaram por hipotecar os imóveis daqueles clientes que não foram capazes de cumprir as obrigações do empréstimo. O governo norte-americano ainda tentou ajudar alguns bancos através de injecções de capital, no entanto essa medida foi muito criticada e o estado deixou de interferir, o que fez com que o grande banco Lehman Brothers falisse.

Este incumprimento também levou a população à pobreza e as empresas a estagnar ou até mesmo a abrir falência. Aquelas que estagnam têm de arranjar forma de obtenção do lucro, a maior parte das vezes despedindo funcionários. Estes mesmos funcionários ficam no desemprego, logo com um baixo poder de compra. Sem compradores, as lojas e as empresas de vendas irão fechar, o que isto significa mais pessoas no desemprego. Gera-se então um ciclo vicioso em que o desemprego leva a mais desemprego.

Aquela crise do subprime passou-se um pouco por todo o mundo, embora numa escala inferior. Os grandes problemas de outros países e especialmente de Portugal, foram a falta de competitividade dentro das empresas e, entre elas, o aumento de salários e a redução das tarifas de exportação. No nosso país, enormes gastos foram feitos, em parte devido à criação de projectos caros, especialmente aqueles que tinham como objectivo o melhoramento do sector de transportes (TGV e Aeroporto de Alcochete) para um futuro aumento da competitividade. Para agravar esta situação, Portugal tem uma enorme dívida pública que ficou cada vez mais difícil de ser paga. Era cada vez mais nítido que o nosso país não iria conseguir arranjar maneira de se financiar sozinho. O governo de José Socrates tentou evitar este cenário que estava à vista de todos, e apenas quando Portugal estava à beira da falência foi feito um pedido de ajuda à União Europeia. Foi então decidido que iríamos receber um financiamento de 78 mil milhões de euros e que teríamos de cumprir com todas as exigências feitas pela famosa troika. A troika é formada por três elementos: a Comissão Europeia, o Banco Central Europeu (BCE) e o Fundo Monetário Internacional (FMI) que, em conjunto, actuam para “salvar” países endividados. Para além das obrigações que temos que cumprir, Portugal tem muito pouca autonomia para tomar decisões sem necessitar de aprovação destes três colossos europeus.

Muito tem sido feito e pensado pelos “senhores do mundo”, mas poucas melhoras se têm visto. Grande parte destas medidas actuam a longo prazo, por isso está estimado que sejam necessários dez anos para que Portugal e o mundo ultrapassem esta crise. Pede-se esforço, trabalho e espírito de sacrifício a toda a população mundial, para que eles consigam lidar com todas as adversidades com que se deparem.




Frederico Aragão Morais